17/05/2006 - Edição por André Luiz - Fotos por Renata Petrelli
São dezesseis anos desde a primeira e única passagem até o momento dos ingleses pelo Brasil. Em meio a crise de violência desencadeada na cidade de São Paulo, The Sisters Of Mercy desembarca na capital paulista para uma apresentação histórica no palco da Via Funchal. Em entrevista coletiva, agendada em cima da hora diga-se de passagem, Andrew Eldritch destila sarcasmo e ironia com relação a história da banda, a fase atual e assuntos da atualidade. Confira abaixo os pontos destacados dos quase 45 minutos de entrevista coletiva.
APRESENTAÇÕES NO BRASILPergunta – O que vocês esperam do show (Via Funchal)?Andrew – Não me recordo que passou tanto tempo assim. Sinceramente, não consigo ter noção do porquê demorar 16 anos pra tocarmos no Brasil, não consigo lembrar nada sobre o show de 16 anos atrás. Mas espero que o show seja muito bom, pra mim e para o público.
Pergunta – O álbum First & Last & Always foi o que mais sucesso fez no Brasil. Os outros também, mas esse contém vários sucessos. Nos últimos set lists da banda apenas a faixa título foi incluída e muitos clássicos ficaram de fora. O público brasileiro pode esperar por músicas como ‘More’ e “Walk Away’ neste show?Andrew – (ironicamente) Não.
Pergunta – Essa tour será gravado para lançamento em DVD?Andrew – (ironicamente) Não.
Pergunta – Serão executadas músicas inéditas?Andrew – Sim, devemos tocar entre 6 e 8 músicas inéditas, incluindo a faixa “Still”.
NOVA FASE DO SISTERS OF MERCYPergunta – Há quanto tempo esta formação tem tocado junto?Andrew – São cinco meses, mas este período tem sido praticamente todo na estrada tocando, por isso já estamos bastante entrosados.
Pergunta – Dentre vários comentários sobre os shows na Europa e EUA, muitos citaram a ausência de um baixista. Faz falta realmente para banda ou vocês preferem pré-gravar o instrumento como no caso da bateria?Andrew – Não entendi porque o baterista não está aqui ainda... (risos). Quando uma música necessita do baixo, um dos guitarristas toca o instrumento porque não consistem apenas em meros guitarristas, eles podem tocar ambos instrumentos. Não temos apenas um baixista em específico. Acho que quatro músicas necessitam de baixo, mas várias músicas são compostas pela máquina, para máquina e ficam melhor com a máquina.
Pergunta – Há informações que músicas da banda estão sendo tocadas ao vivo em diferentes versões quase heavy metal. Gostaria de saber se isso corresponde a verdade.Andrew – O Sisters Of Mercy sempre foi um pouco uma banda de metal, e se o Sisters hoje em dia tende mais pra esse lado está tudo OK.Ben – Muitos falam que Sisters executa heavy metal, mas na verdade heavy metal é um som muito mais pesado e o Sisters faz um som muito mais leve...Andrew – Algumas de nossas bandas favoritas são de metal, como Motörhead e Deftones, mas não gosto de todo metal como a banda Gore, por exemplo. Nada contra eles...
Pergunta – Gostaria que fosse feito um paralelo entre a banda nos 90 e a formação atual.
Andrew – Essa formação é muito mais jovem e faz de mim muito mais jovem, e com mais energia pra tocar. Essa é a tour mais longa já feita e se fosse realizada com a outra formação, provavelmente todos já teriam morrido.
Pergunta – Sobre o material novo, a banda toda participa do processo de composição? Vocês devem lançar esse material em breve?Andrew – A música que estamos fazendo agora com essa line up deve sair antes do que as gravadas com a antiga formação, por problemas internos envolvendo o nome Sisters Of Mercy.
HISTÓRIA DA BANDAPergunta - Faz muito tempo que a banda não lança um álbum. O que uma gravadora ‘majeure’ deve fazer para conseguir com que o Sisters Of Mercy grave novamente?Andrew – Teríamos que achar uma gravadora que fosse tão ambiciosa quanto a banda. A Warner por exemplo, oferece downloads em seu website oficial à U$ 1 por música e teriam oferecido a U$ 0,01 pelo download de cada música do Sisters. Várias bandas já pensam nisso, sobre o controle que as gravadoras tem feito sobre elas. Muitas bandas preferem ficar famosa a terem sucesso. O Sisters não precisa disso no estágio que alcançamos.
Pergunta – Foi noticiado que o Sisters Of Mercy e o The Mission não tem bom relacionamento. Gostaria de saber se isso é verdade ou é apenas lenda?Andrew – Isso é só história.
Pergunta – First & Last & Always?Andrew – O First não foi bem produzido, o que prejudicou um pouco a interpretação sobre a sua sonoridade. Este álbum é irônico, porém o público baseia sua vida numa interpretação errada sobre esse trabalho. Na época em que gravamos esse trabalho usávamos camisas havaianas, mas em um certo show que fizemos em Manchester do nada trajamos roupas negras, incluindo vestido longo, e até hoje todos consideram aquele como o visual definitivo da banda, algo que não consigo entender.
COVERSPergunta – A banda Shaaman gravou um cover para a música ‘More’ do Sisters, você já ouviu essa cover? O que acharam dela?Andrew – Nunca ouvi, não conheço a banda. Você é um integrante do Shaaman?Repórter – Nesse momento eu não gostaria de ser um...
Pergunta – Várias bandas fazem covers de metal na linha gótica de músicas do Sisters. O que acha dessas bandas? Vocês gostam dessas versões?Andrew – Conhecemos a cover do Paradise Lost, banda com a qual já dividimos o palco. Soubemos sobre a versão do Cradle Of Filth, fui até convidado pra participar da versão (para faixa ‘No Time To Cry’, lembra um repórter), mas acabou não acontecendo. Várias bandas que coverizam Sisters gravam músicas antigas, eu gostaria de vê-las gravando covers das músicas mais novas.
PENSAMENTOS E CONVICÇÕES DE ANDREWPergunta – Li numa entrevista antiga onde o Andrew falava que a Internet era algo irrelevante para a música. Eu queria saber como ele vê a relação entre música e Internet hoje em dia.Andrew – Entrevistas também são irrelevantes para música. Apenas não gostaria de fazer entrevistas em dias de show.
Pergunta – Vocês são interessados em outras formas de expressão artística? Acham isso fundamental? A ausência de interesse é que tem tornado a pop music de péssima qualidade?Andrew – Os músicos devem ser interessados principalmente por política. Acho que não tenho capacidade pra escrever um romance ainda, e que não sou um bom músico, mas vocês tem feito retornarmos a música de tempos em tempos. Obrigado por terem vindo, pois me fazem continuar a tocar... Não pretendo chegar logo no fim dos meus dias.
Pergunta – No website da banda é traçada uma linha evolutiva (onde os jornalistas são colocados como a merda). Mas a pergunta seria sobre quem estaria no topo desta linha evolutiva?Andrew – No topo estaria à diva (?!). Com relação aos jornalistas em nossa carreira encontramos alguns muito ruins... os jornalistas brasileiros estão um pouco mais acima nessa linha.
Pergunta – Foi citado que todo músico deveria ter um pensamento político. Gostaria de saber o que você acha da postura do Bono (Vox, líder do U2), se você concorda ou acha que isso tudo é puro marketing?Andrew – Embora não concorde com o Bono em várias coisas, acho legal que ele esteja engajado. Embora não concorde, por exemplo, com bandas nazistas, acho legal que eles tenham sua visão política e demonstrem isso.
Pergunta – Você acha que o caminho para as bandas é saírem das gravadoras majeures e apenas firmarem contratos de distribuição com as mesmas?Andrew – É o melhor caminho para as bandas, mas acontece que a mídia demonstra uma aversão às bandas que estão fora das majeures. Isso dá uma maior liberdade criativa.
Pergunta – Muitos fans se vestem e pensam influenciados pela banda. O que vocês acham sobre esse fato?Andrew – Conheço o público mais gótico que se espelha na banda e não vejo mal nenhum nisso, mas o legal é que o público do Sisters é diferente, não é totalmente gótico. A banda está aberta para donas de casa, motoqueiros, drag queens e por aí afora, não necessariamente apenas os góticos.Simon Denbigh – Achava que no Brasil todo mundo andava de biquíni na rua, mas vejo que a coisa é diferente.COMENTÁRIOS E CURIOSIDADES DA COLETIVA- Andrew Eldricth comentou ironicamente após dada pergunta que Adam Pearson, recem saído da banda, do Sisters está tocando atualmente com MC5;- Perguntado sobre a origem do nome The Sisters Of Mercy, Andrew balançou a cabeça negativamente e passou o microfone para Ben Christo, o mais novo da banda, o qual comentou de forma descontraída 'entrei na banda em 1981 e... esqueci';- Na sessão de fotos após a coletiva, todos integrantes pousaram para fotos ao lado das equipes de reportagem, exceto Andrew que saiu rapidamente após o último clique dos fotógrafos.
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